23 fevereiro 2015

Até quando será necessário subir em árvores?





Há 40 anos, no dia 25 de fevereiro de 1975, três jovens universitários – Carlos Alberto Dayrell, Marcos Saraçol e Teresa Jardim – subiram em uma árvore para impedi-la de ser cortada. Naquela manhã, a Secretaria Municipal de Obras, do então prefeito Telmo Thompson Flores, havia determinado o corte de cerca de 25 árvores, localizadas na Av. João Pessoa, em frente à Faculdade de Direito da Ufrgs, para construir o Viaduto Imperatriz Leopoldina. Os gestores públicos tomaram esta decisão para ser executada durante o período de férias da universidade. Entretanto, não levaram em conta o fato de que este período coincidia com a época de matrículas dos estudantes.

Dayrell vinha participando das reuniões abertas promovidas pela Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), nas quais eram abordadas a pluralidade de temas sobre ecologia e tinha como principal palestrante o engenheiro agrônomo José Lutzenberger. Ao se depararem com o corte das árvores, não teve dúvidas e subiu em uma delas para defendê-la das motosserras. Logo após, Teresa e Saraçol, também o acompanharam. Uma multidão começou a formar-se assistindo àquele ato de protesto que impediu o corte de várias árvores. Os três estudantes foram presos e levados para depor no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), a polícia política da época. Membros da Agapan – o advogado Caio Lustosa, o então presidente da entidade, José Lutzenberger, e o tesoureiro Augusto Carneiro – foram direto ao Dops para defender o combativo estudante. Este ato heróico ocorreu em pleno período da ditadura militar no Brasil.

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O gesto exemplar destes jovens teve uma repercussão imediata e sem precedentes nas manchetes da mídia nacional e internacional: foi a primeira vez no mundo que ocorreu um protesto desta natureza, envolvendo a árvore como símbolo da vida e a defesa da natureza como principio fundamental do movimento ecológico. As árvores que estavam marcadas para morrer, decorridas quatro décadas deste gesto, ainda estão lá, diante da Faculdade de Direito da Ufrgs, embelezando e refrescando com suas sombras o calor do asfalto e do concreto da Avenida João Pessoa, nesta nossa época de aquecimento global. O Viaduto Imperatriz Leopoldina também está lá, evidenciando que a derrubada daquelas árvores era desnecessária e que sempre existem alternativas inteligentes para os problemas sociais e ecológicos. Basta o poder público ter sensibilidade e vontade política. A Agapan tem orgulho de estar na origem do protesto desses três jovens que impediram a derrubada irracional das árvores, cujo o objetivo principal era apenas melhorar o trânsito de veículos neste local da cidade.

A memória social deste gesto político repetiu-se no dia 6 de fevereiro de 2013, quando vários jovens subiram em árvores localizadas na Av. Edvaldo Pereira Paiva, na tentativa fracassada de impedir o seu corte. As árvores foram cortadas meses depois. Logo em seguida, um grupo de jovens, o “Ocupa árvores”, acampou debaixo de árvores marcadas para morrer nas imediações da Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre. Mas, ao contrário do que ocorreu na época da ditadura, o poder público não dialogou com a sociedade: na madrugada, com extrema violência, retirou à força os manifestantes e deu início imediato ao corte de árvores cinquentenárias, sob a alegação da “urgência das obras para Copa do Mundo”.

Em 2013, apesar dos protestos dos moradores locais e dos ecologistas, foram cortadas mais de trinta árvores para a construção da chamada “Trincheira da Anita”, mais uma vez visando beneficiar a cultura do automóvel. 

Em 2014, sob a alegação autoritária de ausência de alternativas, centenas de árvores também foram cortadas no Hospital de Clínicas de Porto Alegre para dar espaço a um estacionamento de automóveis e para a ampliação do prédio.

A crescente política arboricida de Porto Alegre não se restringe apenas a esses fatos e nem é um caso isolado. Exemplifica o retrocesso político da questão ecológica nos níveis, local, regional, nacional e mundial, fato que conspira contra a sobrevivência da civilização e a verdadeira sustentabilidade planetária. 

Por tudo isso, estamos convidando a todos para participarem da celebração dos 40 anos desse marco da nossa cidadania ecológica junto à árvore-símbolo da nossa luta. O evento ocorrerá no próximo dia 25 de fevereiro, às 18horas, em frente à Faculdade de Direito da Ufrgs, na Av. João Pessoa, em Porto Alegre.


43 ANOS EM DEFESA DAS ÁRVORES!

   

AGAPAN – A Vida Sempre em Primeiro Lugar!



Porto Alegre, fevereiro de 2015.


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