14 agosto 2013

Transgênicos: interesses econômicos e riscos para a vida são pautas no Agapan Debate




"As pesquisas de trangênicos das indústrias são por curto espaço de tempo, menos de 90 dias. E os tumores que nascem nos ratos não aparecem neste período. Qual a segurança que possuem para serem aprovadas para o cultivo?

  
Duas inquietantes questões abriram o debate promovido pela Agapan nesta segunda-feira (12), em Porto Alegre. “O que é desenvolvimento?”, provocou o engenheiro agrônomo e extensionista rural da Emater/RS–Ascar Leonardo Melgarejo no início de sua palestra; “Quem precisa de alimentos transgênicos?” foi a questão levantada pelo químico Industrial de alimentos e pró-reitor de Pesquisa e Inovações do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Júlio Xandro Heck, que traçou uma linha de tempo onde apresentou o início da introdução de transgênicos na alimentação humana e derrubou as principais teses levantadas pelos defensores dos alimentos geneticamente modificados. Já o advogado ambientalista José Renato Barcelos, pós-graduado em Direito Ambiental Nacional e Internacional, enriqueceu o debate apresentando princípios e conceitos legais que envolvem a questão dos transgênicos. A mediação do Agapan Debate, que contou com o prestígio de mais de 70 participantes, entre sócios da Agapan e interessados em geral no assunto, foi realizada pelo presidente da entidade, Alfredo Gui Ferreira.



No Rio Grande do Sul, “a Reforma Agrária dá lugar ao avanço dos monocultivos”, constata Melgarejo. Esse perigo que ameaça o futuro do ambiente natural no Estado, do qual, até o momento, em tese, o ser humano é parte integrante, é reforçado pelo recente anúncio de ampliação na produção de celulose na cidade de Guaíba (RS). Conforme dados divulgados pelo governo gaúcho no início deste ano, o investimento na ampliação da planta da chilena Celulose Riograndense é de R$ 5 bilhões. De olho nas vantagens competitivas adquiridas com a excelente posição geográfica da cidade de Guaíba, a multinacional, conforme publicado na imprensa, dá indícios de que pretende ampliar ainda mais suas atividades por aqui, adquirindo áreas produtivas do Estado, mesmo que para isso tenha que enfrentar os problemas da legislação brasileira, que dificulta a compra de terras por estrangeiros.



Mesa debatedora Heck, Melgarejo, Ferreira e Barcelos.
 

E, para ampliar ainda mais a preocupação de ambientalistas e da comunidade científica não comprometida com as multinacionais de biotecnologia, o Conselho Administrativo do Fundo Estadual de Apoio aos Pequenos Empreendimentos Rurais (Feaper) aprovou, em 23 de abril deste ano, a reintrodução das sementes geneticamente modificadas (transgênicas) no Programa Troca-troca de Sementes de Milho para a safra 2013/2014. Isso, inclusive, foi o que motivou o Conselho Superior e a Diretoria Executiva da Agapan a colocar os transgênicos na pauta desta edição do Agapan Debate.



No Rio Grande do Sul, estado onde produtores rurais se colocam à margem da lei sem ser responsabilizados na Justiça por seus atos, não é de se admirar que a decisão para liberar a distribuição de transgênicos seja tomada pelo Conselho de um fundo estadual.

  
“A venda casada está por trás dos interesses (do mercado) e justifica o sumiço das sementes tradicionais”, comentou Melgarejo. Houve aumento da comercialização de agrotóxicos no RS, segundo Heck, após a liberação do cultivo de transgênicos. Conforme o pesquisador, as vendas do herbicida Glifosato (ingrediente principal do Roundup) triplicaram na Argentina após o início do cultivo de soja transgênica.


"Os produtores não tem mais seus armazéns atacados por ratos após iniciar o cultivo de transgênicos" relatou Heck.

Alguns produtores rurais já percebem a recusa por parte de certos animais em consumir alguns alimentos típicos de suas dietas. Heck relatou o depoimento de um produtor que afirma não ter mais seus armazéns atacados por ratos após ter iniciado o cultivo de transgênicos. Esta constatação pode ser um indício de que o instinto de sobrevivência desses roedores indique que o alimento não é ideal para consumo. Já há relatos, também, no interior do RS, de que caturritas estão deixando de se alimentar das lavouras plantadas com milho transgênico. Para o produtor, do ponto de vista econômico, este aspecto pode representar maior rentabilidade. No entanto, para o consumidor o risco é o de ingerir grandes quantidades de veneno que podem levar a quadros de saúde de baixa qualidade.


"As lavouras transgênicas são instrumentos para ampliar a venda de agrotóxicos" afirmou Barcelos.

“Mais do que novas tecnologias com finalidade de melhorar o desempenho das lavouras, as plantas transgênicas são, na verdade, instrumentos para ampliar a venda de agrotóxicos produzidos pelas empresas de produtos químicos, que também investem em transgenia”, afirmou Barcelos.


Auditório quase lotado.

 As aproximadamente duas horas de debate proposto pela Agapan serviram para esclarecer os participantes sobre os riscos dos transgênicos para a saúde e para o ambiente natural e reafirmar a importância de manter a discussão em torno dessa questão na pauta da sociedade. Os debatedores foram unânimes em apontar para a necessidade de que a população se aproprie desse debate, que não deve ficar restrito à classe científica, ao governo e aos produtores, para que as decisões não continuem sendo tomadas por representantes dos interesses políticos e econômicos envolvidos diretamente nesse grande negócio agroquímico que são os transgênicos.





Heverton Lacerda

Jornalista e secretário-geral da Agapan




Fotos:
Cesar Cardia/ Heverton Lacerda

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